A HIERARQUIA E POLÍTICA
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Cada partido político, como qualquer dos
seus membros sabe, é uma hierarquia. Por consenso unânime, a maior parte dos
membros não trabalha para coisa alguma e ainda paga pelo privilégio. Contudo, existe
uma estrutura bem marcada de categorias e um bem definido sistema de promoção
de categoria para categoria.
Até aqui apresentei o
Princípio de Peter na sua aplicação a funcionários pagos. Vamos ver agora se
ele continua válido para este tipo de hierarquia.
Num partido político, como uma fábrica ou
num exército, a competência numa determinada categoria é um requisito para a promoção.
Um competente e diligente angariador de votos é susceptível de promoção e pode
ser autorizado a organizar um grupo de angariadores. O angariador ineficiente
ou antipático continuará a bater às portas, alienando os votantes.
Um homem rápido a encher envelopes pode
esperar ser chefe de um grupo para encher envelopes. Se for incompetente ficará
a encher envelopes, calma e desajeitadamente, pondo duas listas em alguns e
nenhumas noutros, dobrando mal as listas, deixando-as cair, etc., todo o tempo
que permanecer no partido.
Um competente
angariador de fundos pode ser promovido ao comité que nomeia o candidato. O
facto de ter jeito para pedir não implica que seja um competente juiz de homens
como legislador e que não apoie um candidato incompetente.
Mesmo que a maioria dos membros do comité
de nomeação fosse constituída por competentes juízes de homens, o candidato seria
escolhido, não pelo seu possível saber
como homem de leis, mas sua presumível habilidade para ganhar eleições.
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Antigamente, quando as grandes assembleias
públicas decidiam os resultados das eleições, e quando o falar em público era
uma arte nobre, um orador fascinante podia esperar que um partido o nomeasse e
o melhor orador entre os candidatos podia ganhar o lugar. Mas não dúvida que a
habilidade para encantar, divertir e inflamar uma multidão de dez mil votantes
por meio da voz e do gesto não implica necessariamente a capacidade para pensar
sensatamente, para debater com calma e decidir com inteligência sobre os
interesses da nação.
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Com o desenvolvimento
das campanhas electrónicas, um partido pode apresentar o homem que tem melhor
apresentação na TV. Porém, a capacidade para gravar- -- com ajuda da
maquilhagem e das luzes --- uma imagem atraente num écran fluorescente não é garantia de competência como homem de leis.
Muitos homens, tanto no antigo como no novo
sistema, deram o grande passo de candidatos a legisladores apenas para atingir
o seu nível de incompetência.
-----É óbvio e o
leitor já o terão compreendido, que o Princípio de Peter se aplica também ao
ramo executivo: repartições, escritórios, departamentos, agências e gabinetes
governamentais, a nível nacional, regional e local. Tudo, desde as forças da
polícia às forças armadas, são hierarquias rígidas de empregados assalariados e
todas elas estão, necessariamente, sobrecarregadas de incompetentes que não
sabem desempenhar as suas funções e que não podem ser substituídos nem afastados.
Qualquer governo, quer seja uma democracia,
ditadura, burocracia comunista ou economia livre, cairá quando a sua hierarquia
atingir um intolerável estado de maturidade *.
* A eficiência de uma hierarquia é inversamente
proporcional ao seu coeficiente de maturidade (QM).
QM = Nº de empregados em nível de
incompetência / Nº de empregados da hierarquia X 100.
É evidente que quando o QM atinge 100
não será realizado mais trabalho útil.
Fonte: O Princípio de Peter – sobre Hierarquia e Política, a folhas 84 a
87. Publicado pela Editorial Futura em
1971.
abibliotecaviva.blogspot,pt
31-01-2014
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