TEMPOS IDOS - MEMÓRIA FUTURA
«CÁLCULO E LANÇAMENTO DE JUROS NAS CONTAS DE DEPOSITOS À ORDEM»
1-INTRODUÇÃO
« On ne doit écrire que de ce qu´on aime», e passadas duas décadas, não por ter executado a tarefa em epígrafe, mas, simplesmente por, com ela ter vivido, no período abaixo citado, queria deixar aqui expressa, nesta narrativa, uma singela homenagem a todos aqueles empregados do Banco Espirito Santo, especialmente os dos balcões, onde ela ainda continuou, além de 1970 , ano da criação do Centro Mecanográfico, pelo profissionalismo, rigor e capacidade inventiva na forma como criavam as suas «mnemónicas » para o cálculo da «chifragem» que utilizavam na obtenção do resultado da adição dos números « devedores ou credores», resultantes da multiplicação do capital em contos pelos períodos de dias em que esses saldos eram mantidos nas contas dos clientes , sobre os quais iriam ser aplicadas as taxas descritas em 1.1.
Num depósito a prazo, as variáveis «capital, taxa e tempo» sendo fixas, o cálculo dos juros a creditar, mesmo sendo manual, tornava-se mais simples de efetuar, porque nos depósitos à ordem, só a taxa é que era fixa, pelo que esta tarefa quase diária, obrigava a um acompanhamento das outras duas variáveis ao longo do ano em função do tempo e dos saldos, em contos, de cada conta, à medida que cada uma se ia movimentando.
Detalhando:
1-0- A criação do CM, na data citada nesta introdução, veio criar as condições para que as cargas administrativas, mais pesadas e onerosas, passassem a ser centralizadas, como aconteceu com as contas-correntes, Descontos, Depósitos a Prazo, Transferências, Ordens de Pagamento, feitura e expedição dos cheques, que deixavam de ser feitos, também manualmente, nos balcões. O assunto relacionado com as contas correntes já foi postado, pelo autor no seu blogue.
1-1- Desde a década de 60 e finais do século XX, os depósitos à ordem dos clientes, nas instituições bancárias, quer fossem de empresas ou de particulares, eram remunerados às taxas de 0,5 % de 1%, respetivamente, com ressalva para a Caixa Geral de Depósitos que remunerava os seus clientes aforradores, utilizadores de cadernetas poupança, com uma taxa de 2%.
1-2- Depois, do período citado em 1.1, o cliente, além de passar a não receber qualquer remuneração era ainda praticada, em cada instituição bancária, a obrigatoriedade de cada cliente manter um saldo médio, para poder, assim, ficar isento de despesas de manutenção na sua conta de Depósitos à Ordem.
1.3- O cumprimento desta nova linha de orientação originou, «dependia de cada instituição o período do cálculo das despesas de manutenção, trimestral, semestral ou anualmente», que os clientes, a partir daquele momento, passassem a suportar aquele encargo, até ali inexistente, salvo em relação às contas com saldos pequenos e paradas, nas quais eram anualmente debitadas pequenas importâncias que, com o decorrer do tempo, naquelas situações, acabavam por saldar.
1.4 - O número de clientes existentes nas Filiais e Agências, « as tarefas eram iguais para ambas as definições, a diferença entre Filial e Agência, devia-se ao fato da Conta Capital atribuída à Filial, quando da sua abertura, ser maior» nunca era inferior a mil, mas havia alguns balcões onde esse número era superior a dez milhares e, em todos eles, era necessário manter atualizada a «chifragem» isto é, os números atualizados, como disse no início desta narrativa, para que no fim do ano os juros fossem calculados e lançados nas contas dos clientes ,números esses, devedores ou credores, que eram inscritos na margem direita dos cartões no espaço, neles existente, para o efeito.
Lembro que toda esta tarefa era bastante pesada e as máquinas de calcular e escrever, eram no princípio, quase inexistentes, até ao momento em que apareceram as de adicionar, Burroughs, com manivela, depois as FACIT(S, NCR , as Olivetti(s) etc. , que vieram permitir a impressão, em papel, dos cálculos efetuados. Assim, as máquinas de escrever, então existentes, também evoluíram bastante, mas atualmente, mais não são do que peças decorativas.
Estes equipamentos vieram facilitar a tarefa aos executantes que na segunda posição, alem de controlarem os saldos nos cartões tinham de ter, também, esses números devidamente atualizados.
2-HISTORIAL DAS FASES DO «MODU OPERANDIS» DOS JUROS.
2.0 - No início, os cálculos dos juros a creditar ou debitar, descritos na Introdução deste trabalho, bem como envio dos extratos para os clientes, que se obtinham, por decalque, através do químico existente, agrafado ao cartões, eram feitos, manualmente, «aqui apareciam alguns empregados que eram autênticos “ Picassos” (risos) na feitura dos cabeçalhos das contas dos clientes» e anotados nos cartões, como disse em 1.4, sendo os respetivos juros calculados lançados, também manualmente, nas contas respetivas.
Quando do lançamento dos juros, os extratos eram enviados, via postal, para os clientes. Claro que, depois, era necessário, voltar a «forrar» todos os cartões com um novo impresso virgem o qual era agrafado novamente ao químico e ao cartão, sendo que esta tarefa era repetida sempre, em todas as contas, quando os cartões ficavam cheios. Neste caso, lá se tinha de «desenhar» (risos) novo cabeçalho com todos os elementos necessários à escrituração da conta, sua manutenção em ficheiro, para a próxima expedição dos extratos, sempre que os movimentos o justificassem.
2.1- Com a criação do CM e com a introdução dos equipamentos de contas- correntes, que passaram a dar como suporte a fita perfurada, as cargas descritas em 2.0, ao passarem a ser feitas, centralmente, no CM, vieram aliviar os balcões, desta tarefa manual, mas não os aliviaram de ter de os lançar, localmente, nas respetivas contas dos clientes, através das listagens que recebiam do CM.
Havia balcões, pela sua elevada carga de trabalho diária, não conseguiam absorver mais estes movimentos em horário normal, pelo que recorriam ao trabalho extraordinário. Em algumas situações recorriam, até a operadores de outros balcões para lhes darem esse apoio em horário pós-laboral, no qual também colaborei e beneficiei, pois era mais um complemento do meu salário.
Esta tarefa só, após a instalação do Teleprocessamento, em 09-11-1980, com a abertura da Nova Sede do BES, foi, gradualmente eliminada, em todos os balcões que iam sendo abrangidos por esta nova otimização de processos de trabalho.
2.2- Ainda, antes do Teleprocessamento, em relação ao descrito anteriormente, para ultrapassar os inconvenientes citados, em itálico, e otimizar recursos, o CM passou a emitir ficheiros completos, de todos os clientes de cada balcão do Banco, os quais após, um planeamento rigoroso, os responsáveis dos balcões ou por delegação, no “timing” combinado, vinham proceder à recolha dos novos ficheiros já com os «jurinhos» (risos) lançados de modo a estarem disponíveis quando da abertura do balcão ao público.
2.3-Lembro, também, por ter dado o meu contributo, que eram autênticas maratonas já que, cada colaborador sabia e executava com rigor todas as fases do planeamento, no sentido de minimizar os tempos de espera na recolha dos ficheiros por parte dos responsáveis dos balcões. Ao chegarem ao balcão, estes, lá tinham ainda a tarefa de pesquisar todas as anotações existentes nos cartões que, iam ser arquivados, e anexa-las aos cartões novos.
Estas tarefas eram realizadas sempre em fins-de-semana prolongados e, para ela, também eram elaborados turnos de trabalho extraordinário.
3- FINALIZANDO
Após ter refletido sobre as questões referidas neste texto, fui à minha Biblioteca Viva e lá encontrei algo que me veio clarificar e, talvez, encontrar a razão para que todas as instituições de crédito, incluindo a CGD tivessem deixado de pagar juros aos clientes neste tipo de depósitos, a partir da data, mais ou menos aproximada, descrita em 1.1.
Detalhando:
3-1- Quando Vilfredo Pareto, (1848-1923) célebre economista italiano, procedeu a uma investigação para verificar como é que a riqueza de Itália estava distribuída concluiu que, 80% dessa mesma riqueza, estava distribuída apenas por 20% da população italiana e, a partir de novas investigações, sempre validadas, lá nos aparece a famosa Lei de Pareto em sua homenagem, por proposta de Joseph M. Juran.
Por cá, desconheço a %, mas tenho a impressão que a regra não iria funcionar, pois penso que a nossa riqueza está ainda mais concentrada. (Risos).
3.2- No entanto, depois continuei a acompanhar o assunto e verifiquei que, mais tarde apareceu um livro em Inglês com o titulo « Eighty-Twenty Principle» , da autoria de Richard Koch, que compilou e desenvolve todas aquelas asserções, mas eu, continuei a pesquisar e encontrei no You Tube do Google, um vídeo, em língua brasileiro, que aconselho, onde esta lei é detalhada, numa linguagem acessível e, para não me alongar, além do citado em 3.1, deixo dois, dos muitos exemplos que a mesma Lei comporta, a saber:
3.2.1- « 80 % dos acidentes de automóveis são provocados por apenas 20% dos portadores de habilitação para conduzir » .
3.2.2- «20% dos clientes de, qualquer empresa, contribuem para a obtenção de 80% das receitas da mesma.
3.2.3-Sintetisando a Lei de Pareto : « 80% DAS CONSEQUÊNCIAS, ADVÊM DE 20% DAS CAUSAS».
3.3- Ora sendo o BES, também, uma empresa, com um Modelo de Gestão participativa por Objetivos assente, ainda, num Orçamento de Base Zero, «quando escrever, brevemente, sobre o tema da Ascensão ao Poder, detalharei o que a minha Biblioteca Viva pensa sobre esse assunto», nas reuniões de objetivos anuais, o CM, dadas as cargas administrativas, que 80 % dos clientes representavam nos custos de exploração, fornecia mapas detalhados à Hierarquia Comercial e Gerentes de Zona e de Balcões, onde constavam os números de clientes, respetiva %, no plafonamento dos saldos, com o objetivo de serem encontradas medidas tendentes a diminuir a % do número de clientes, cujos saldos, pelas despesas de manutenção que o Banco suportava, deveriam ter um acompanhamento de mais proximidade.
3.4 – Ora, como as empresas, enquanto vivas, vivem dos lucros que conseguem obter, e dentro duma política de prestação de serviços, o custos destes, ao serem calculados, com as ferramentas de medição administrativa, existentes a partir da década de 70, deveria ser suportados pelos clientes, após a análise da rendibilidade do cada saldo médio de cada um!
Por experiência, nunca vi alguém dar algo a alguém, abro aqui a exceção à propaganda com que as caixas de correspondência são invadidas com publicidade, da mais variada espécie, mas todas elas incitando ao consumo e não à poupança, com a agravante de prejudicarem a função para que aquelas foram criadas. (Risos).
3.5- Pelo exposto nesta narrativa, entendo que foi a decisão acertada, aquela em quede todas as instituições de crédito, sem exceção, tomaram de deixar de pagar juros, neste tipo de depósitos.
Lamento, para terminar, que esta tenha sido tão tardia, «ver último período da Introdução» por um lado e por outro, que esta carga de trabalho tivesse existido quando tudo era feito quase manualmente.
Se Blaise Pascal ( 1623-1662) fosse vivo, não deveria ficar satisfeito em saber que, o seu invento da «máquina aritmética» em 1642» , levasse tanto tempo a aperfeiçoar até ter chegado aos nossos dias, como os aperfeiçoamentos se vieram a verificar. (Risos).
4. Finalizando;
4.1 -Pelo inserto neste trabalho quero deixar, uma singela homenagem a todos os Reformados do BES , pelo contributo que deram na construção dos alicerces desta grande empresa que é hoje reconhecida, nacional e internacionalmente.
Para os atuais colaboradores do Banco quero também deixar o desiderato de que sigam, da Natureza, a lição da perseverança dos passarinhos, que :
«Nunca desistem mesmo quando alguém lhes vai tentado destruir o ninho».
Vão vir dias melhores para todos nós! Tenhamos esperança!
4.2 – Ao terminar, pedindo desculpa por qualquer solecismo que venham a encontrar no texto, queria enviar daqui, desde já, um grande Bem-Haja, também, para todos os meus leitores.
Destas memórias, espero que gostem tanto como eu, ao escreve-las, tive.
Publicado por;
Imagens do álbum do autor e do Google.
abibliotecaviva.blogspot.pt
03-03-2014
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