Era uma vez um ser que, ao nascer, lhe foi atribuído um número e um nome com a sua filiação, numa cédula pessoal, que o acompanhou durante quase vinte anos, sendo o único documento que utilizou até ir fazer o Serviço Militar, pelo que, a partir daquele momento, a mesma foi arquivada, já que o novo documento – Caderneta Militar – até trazia foto e tudo.
E, assim, o dito ser passou mais alguns anos com aquele documento, até que a mudança de actividade, após completar o Serviço Militar, o obrigou a dar o passo para o Arquivo de Identificação da sua aldeia – Cartório Notarial – param a partir daí, passar a cumprir todas as regras definidas, naquele momento em vigor, para as sucessivas e necessárias substituições da foto, já que todos outros elementos constantes no documento se iam repetindo, à medida que tais acontecimentos se iam verificando.
Aqui, o ser compreende as mudanças da foto e as deslocações ao Cartório Notarial visto que , tal como os outros seres, também, ia mudando de fisionomia à medida que os anos iam avançando.
Só que há mais de uma década que este ser vivo, de acordo com a legislação existente na altura, foi dispensado de dar os passos para o Notário ou para o Arquivo de Identificação pelo que, como sabia que ia ter o último cartão, se decidiu tirar uma foto com o melhor fato que dispunha no seu roupeiro para o efeito, mas valeu a pena!
Ao receber o último cartão com a indicação de Vitalício este ser respirou de alívio pelo que passou a conservar melhor o cartão, forradinho a plástico, que o iria acompanhar durante o resto dos dias da sua vida.
Este ser pensava que este assunto estava arrumado, mas enganou-se e eis que alguém se lembrou de ressuscitar os Cartões de Identidade Vitalícios para o novo Cartão do Cidadão que além de aglutinar vários cartões no mesmo, só falhou no do número de eleitor, que tal como o BI não se livraram de levar uma furadela a dá-los como incapazes para o futuro.
Até aqui tudo bem, melhor tudo mal, porque o pedido do cartão obriga sempre a presença deste ser de cinco em cinco anos; Tem como vantagem, nem tudo pode ser mau, a foto ser tirada pelo próprio equipamento que se encontra no Cartório Notarial pelo que evita novas deslocações, deste ser , ao fotógrafo para bater nova chapa.
Quando este ser foi tirar o seu primeiro Cartão do Cidadão teve que se levantar às cinco da manhã para poder entrar na fila, até ao número vinte e quatro, pois eram apenas estes e só estes, que podiam ser atendidos no mesmo dia; Todos os outros seres tiveram que passar a levantar-se mais cedo para não correrem o risco de lá terem de ir mais do que uma vez como aconteceu a este mesmo ser.
Este ser esteve à espera do novo cartão que substituiu o ressuscitado mais de três meses, pelo que, durante esse tempo, começou a pensar como iria ser o futuro do novo cartão, quando este ser não o pudesse acompanhar, ao cartório, nas próximas substituições e lembrou-se por que tem visto, quando das eleições os soldados da paz a transportar pessoas com dificuldades de mobilização para exercerem o seu direito de voto de ir perguntar a alguém como seria depois.
Como gerir é prever, este ser deu corda aos sapatos e dirigiu-se ao Cartório da sua aldeia para colocar o problema da mobilidade futura onde é informado que dentro do cofre estava guardado o equipamento móvel, para o efeito, pelo que bastava apenas o ser pedir esse serviço que os Serviços Notariais se deslocariam ao local indicado, para darem satisfação ao pedido solicitado e, tendo perguntado quais os custos das deslocações e respectivo serviço , não lhe souberam responder.
SOLUÇÂO PARA A HISTÓRIA
Como já tinha em casa o meu carrinho de mão com motor que também foi ressuscitado quinze anos depois para voltar a pagar o imposto de circulação até morrer, fui-lhe pedir a sua opinião e sabem o que ele me disse caros leitores; Não te preocupes meu caro ser por que na altura, quando precisares e não puderes, arranja-me outro ser da tua confiança e, como eu posso levar duas pessoas na cabine, terei muito gosto em te transportar ao Cartório Notarial , pois é uma maneira que eu tenho de te agradecer o facto de me teres prometido que também me levavas às inspecções todos os anos enquanto eu e tu fossemos vivos.
MORAL DA HISTÓRIA
Claro, caros leitores, que vou seguir o conselho do meu carrinho de mão com motor, mas pelo menos, esse alguém que pensou nisto, não deveria ter pensado que um dia iria ter o mesmo problema e ter legislado que a regra dos cinco em cinco anos não se aplicaria aos cartões que já eram vitalícios? Fica a questão para meditação!
Se estão à espera de, quando eu tiver cem anos, me vá levantar às cinco horas da manhã, como me aconteceu da primeira vez, estão muito enganados. Chica!
abibliotecaviva.blogspot.pt
Março de 2011
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