VIII
Confesso que não foi fácil; As mesmas botas, que pareciam uns Ghost Shoes, que eu já tinha arrumado, voltaram a acompanhar-me e passados uns dias , parecia mais um coxo do que um jovem sadio e em plena juventude, tinha doze anos; Valeu-me a sorte de me mandarem fazer um par de sapatos de cabedal ; Só que , a parte da pele chamada flor, ficava virada para fora; Era feia e a sua manutenção era feita à base de sebo; A juventude da vila não usava aquele estilo de calçado; Tive que pensar a maneira de ultrapassar o problema; A casa onde trabalhava tinha um rés-do-chão e um sótão elevado; O res-do-chão, no exterior, tinha um roda-pé em cimento; Pensei e deu resultado; Havia três empregadas domésticas que tinham por hábito ao serão virem colocar-se à janela; Nessa altura eu, na parte de fora em cima do passeio, começava o “ruca-ruca” isto é – biqueira da frente do sapato a roçar no cimento-; Digo-vos , caros leitores, que não foi preciso mais do que uma semana para os sapatos ficarem sem conserto.
Sou chamado à atenção pelo meu patrão que torce o bigode, mas compreendeu o motivo da minha insatisfação e autoriza que os novos sapatos já fossem feitos com a pele lisa virada para fora; Depois, era ver o brilho que os mesmos ostentavam; Eram tantas as camadas de tinta e pomada que pareciam de calfe de boa qualidade; Causavam inveja á juventude da vila.
IX
Mais tarde comecei a pesquisar a razão de eu não ter crescido e após várias pesquisas encontrei uma que, pela analogia que fiz e, ao aceitá-la, não pesquisei mais; Na minha aldeia dizia-se que ,quando qualquer fruta, feijão, couve, etc não crescia bem, as plantas tinham a Mela; Depois , tentei decifrar o sentido, antes de ir,à Enciclopédia, ver outro significado para a palavra se esta fosse lida ao contrário e com um acento agudo no é ; O resultado da pesquisa deixou-me preocupado e apreensivo.; Será que a Mela também tem que ver com o não crescimento humano? É que as plantas tal como os humanos precisam de alimentação; E a fome , no meio disto ,onde é que fica? Chiça! Para o Além, quando mais tarde melhor.
Cumprimentos da Biblioteca Viva
Março de 2011
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