domingo, 20 de março de 2011

AS DILIGÊNCIAS E ALGUMA HISTÓRIA

AS DILIGÊNCIAS E ALGUMA HISTÓRIA
   Em tempos li, mais ou menos isto que vou postar nesta narrativa, da Monografia do Concelho de Castanheira de  Pêra da autoria de Kalidás Barreto que em relação ao título em assunto, existiu no concelho, uma figura típica de seu nome Álvaro Tomaz,(1884-1966), que contrariando o que ele queria que ficasse no seu epitáfio, a seguir:
AQUI JAZ
O ALVARO TOMAZ
EM VIDA NADA FEZ
AGORA NADA FAZ.

   Ele trabalhava na diligência que fazia a ligação entre os concelhos de Pombal, Ansião, Figueiró dos Vinhos, Pedrógão Grande, sem ligação em Figueiró dos Vinhos, Castanheira de Pêra, e vice – versa, com a finalidade de levar a partir do seu concelho os passageiros para o comboio em Pombal e para, no retorno, proceder ao transporte daqueles que, ao saírem do comboio, pretendessem regressar aos concelhos, aqui já citados.
    Antes do início da  viagem de retorno, este anunciava que havia três classes de passageiros, explicando-lhes: Os de primeira vão de diligência até à Castanheira de Pêra na berlinda, os de segunda, quando chegarmos à Ribeira de Alge, antes do início da subida, têm que subir a pé até cimo desta - mais ou menos quatro quilómetros - e os de terceira têm que se apear também, mas têm que empurrar a diligência até ao início da descida para a Aldeia de Ana de Avis.
  Tudo bem, combinado e aceite o acordo, cada passageiro lá pagava o seu bilhete e o bom do Álvaro Tomaz , lá iniciava a viagem para satisfação dos passageiros que vinham para Ansião que, ao descerem muito antes da subida da Ribeira de Alge, se livravam de ter de empurrar a diligência, por um lado  e,  por poderem, ainda, fazer o percurso, se o quisessem, comprando os  bilhetes mais baratos. Sempre houve e vai continuar a haver uns com mais sorte do que outros!
   Actualmente, o problema está ultrapassado com a abertura na nova via IC 8 que liga Figueira da Foz a Castelo Branco, mas não me deixou de preocupar o sofrimento que aqueles moradores dos concelhos, mais a norte da Beira Litoral servidos por estas estradas, quase de terra batida, tiveram de suportar durante décadas até ao aparecimento do alcatrão.
CONCLUSÕES DESTA HISTÓRIA COM UM POUCO DE HISTÓRIA
   Como se tem verificado através da história sempre houve divisão de classes, a saber: No tempo de D. Afonso Henriques, nós éramos quinhentos mil habitantes, quando ele nomeou para seu Ministro das Finanças, Yahia Ben Yahia de origem judia que a história recorda como tendo sido um bom ministro, existiam: O Clero, a Nobreza, e o Povo; O Clero compreendia: Bispos, cónegos, sacerdotes seculares e regulares; A Nobreza compreendia: Ricos Homens, infanções, cavaleiros e escudeiros; No Povo, existiam os cavaleiros - vilões e os peões; Os primeiros eram proprietários que não eram nobres, mas não pagavam impostos e só eram obrigados ao serviço militar a cavalo; Os peões entre os quais se encontravam os servos estavam sujeitos à aciduva, que consistia em trabalharem gratuitamente na construção de castelos e outros edifícios.
   A nossa população passou a ser; De novecentos mil no reinado de D. Dinis; No reinado do Mestre de Avis, D. João I, passámos a um milhão  ; No fim do século XV  a um milão e quinhentos mil  ; No reinado de D.José ,  a  três milhões e, destes, trezentos mil , estavam ligados ao Clero, segundo Kenneth Maxwel, no seu livro sobre o Marquês de Pombal,  onde nos conta o que o Clero sofreu, infelizmente, porque ele - Marquês - entendeu ser impossível governar com dez por cento desta  classe , em virtude dos poderes que na altura  aquela tinha.
   Ao mesmo tempo em França, mas por outro motivo, também se queixava Napoleão Bonaparte, ao dizer que era impossível governar a França porque só de variedades de queijo tinha duzentas e cinquenta.
  Quando eu saí da escola, nos anos cinquenta, nós éramos dez milhões e ainda hoje esse mesmo número se mantém, segundo o que se tem noticiado em relação a este assunto.
  A partir do 25 de Abril eu comecei a ficar baralhado com a divisão de classes que actualmente existem e verifico que o mesmo grupo - O Povo - que, tal como os Peões, que nem cavalo tinham no tempo de D. Afonso Henriques, continua ainda a viver neste século, com as dificuldades gerais que são conhecidas pela imprensa diariamente e fico admirado de ouvir  dizer que tudo está bem por parte de quem o governa.
    E, os do grupo que, na altura, não empurrava a diligência, por terem ainda algum nível de vida, os chamados - Classe Média - estão a ver no dia-a-dia que passa cada vez mais perto a hora que têm de começar a empurrar isto para a frente, já que ao Povo também  pertencem, de modo a que essa situação se não agrave mais do que aquilo que já está.
  É claro para mim que compete aos políticos, que estão bem na vida, motivar esta mobilização mas, estes não se lembram, ou fazem-se esquecidos, daqueles – O Povo - que os elegeu para os servir e não para Estes se servirem Dele.
   Finalmente foi, por me ter lembrado daqueles que tinham de empurrar a diligência, que fiz esta  dissertação no sentido de tornar esta história triste,  numa mais alegre  mas , infelizmente,  para mim, verdadeira.
  Cumprimentos da Biblioteca Viva
Março de 2011.

PS: A imagem foi tirada do Google e alguns apontamentos de história foram retirados das  aulas dadas, naquela disciplina, no Liceu,  pela minha filha, nos anos setenta.


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