sábado, 19 de março de 2011

FIDELIDADE A QUANTO OBRIGAS !

 FIDELIDADE A QUANTO OBRIGAS!



     Na minha aldeia conta-se, como anedota que, num belo dia de Primavera, um par de  noivos estava sentado num banco dum jardim naquele «Dolce, fare niente», normal entre namorados e eis que num momento de maior fulgor estes se começam a beijar, tão loucamente, que nem se apercebem da aproximação do Padre da Aldeia, que ao ver a cena, parou e sem falar, abriu os dedos e a palma da mão direita e   com um gesto na vertical passou a mão de cima para baixo e,  com a mesma mão, mas na posição horizontal, passou a  mão da esquerda para a direita, fazendo com  estes dois gestos o sinal da cruz; Depois continuou o seu caminho só que a noiva viu a feitura dos gestos e, intrigada, perguntou ao noivo qual o seu significado.   Este, com um à vontade natural, abana a cabeça já fresca da cena, e disse-lhe que não sabia, mas acrescentou:

«Se queres saber é melhor ires fazer a pergunta ao Padre por que eu também estou interessado em saber e ele ainda não vai muito longe.»

Naquela fase do romance qualquer pedido do noivo, por norma é satisfeito, e eis que a noiva avança mesmo na direcção do Padre e, ao colocar-lhe a pergunta para a sua intriga, o Padre respondeu-lhe;
                    «Ouve e aprende minha filha, de pé é bom, mas deitado é  ainda melhor.»
   Passados uns tempos casam pela igreja e eles, tal como eu que já lá vão cinco décadas e um lustro, não se livraram de jurar o tradicional compromisso da fidelidade, de amarem-se e serem solidários na saúde e na doença para os restantes dias das suas vidas. 
    Se até aqui tudo me parece correcto, tal facto não evitou que eu, ao longo do meu tempo de casado que citei antes,  fosse pesquisar o que, sobre os compromissos do casamento, havia sido escrito e lembrei-me que, na minha Biblioteca física, existia um livro escrito, curiosamente  por um solteiro, de nome D. Francisco Manuel de Melo, que viveu no reinado de D, Duarte, o Eloquente, com o título de Carta de Guia de Casados.
     Para ser mais claro na minha exposição,  vou associar aqui o nome do noivo, Mozen Gralha,  à nossa anedota  inicial, por ser ele o nosso herói, como a seguir verão no decorrer desta narrativa ;  No referido livro citado no período anterior eu ,ao longo dos vários conselhos insertos no mesmo,   li, mais ou menos,  o que consta no periodo seguinte:


    No tempo do Imperador Carlos V de Espanha, o nosso bom Gralha  foi zurdir  para Itália, onde as campanhas bélicas do Imperador se desenrolavam naquela altura; E, um belo dia, este recebe uma carta da Madame Gralha, que  além de outros  assuntos, continha  uma enigmática expressão para ele, a saber:
«Mozen Gralha , Mozen Gralha olha que o amor não come palha.»
   O nosso herói, ao ficar intrigado, coloca a questão ao seu superior, que por sua vez a coloca ao Imperador; Naquela altura, na arte da guerra, os responsáveis se não estavam na frente da batalha, deveriam andar por ali muito perto;  O imperado, ao ler a carta, chama o nosso herói e para  não ficar com os remorsos de ser ele o culpado da ameaça que pairava  sobre  ele, em relação ao o juramento que havia feito na igreja,  diz-lhe; 


  «Vai em paz, meu bom Soldado e dá graças a Deus por ela te ter avisado, pois não é normal nos tempos que correm isso acontecer».

   Mas estas coisas sempre deixam marcas e um belo dia o bom do Mozen Gralha é convidado por um grupo de amigos, para ir fazer uma caçada num fim-de-semana e que, no fim, haveria uma pequena festa, entre eles, onde utilizavam, como ingredientes o resultado da caçada.

    O nosso Herói,  ao aceitar o convite, pensava que a festa ia acabar mais cedo e, como esta estava a ir mais além no tempo  que aquele entendia que devia  estar fora de casa,   sorrateiramente, dá «o fora» sem se despedir dos amigos. Quando estes se apercebem da falta do nosso herói já ele ia a começar a subir uma encosta em direcção à sua casa e, ao ser interpelado pelos amigos do motivo de tal procedimento, este grita bem alto para todos os amigos o ouvissem:
   «Amigos eu me vou pois se fico mais de vinte e quatro horas no campo cuido que me torno boi.»
CONCLUSÕES DESTA HISTÓRIA.


    Não me parece seja necessária a existência do Diploma de Casado, para se poder opinar sobre esta matéria visto que o autor do livro o demonstrou, neste e em outros assuntos ligados ao matrimónio, o seu total conhecimento da vida conjugal; Em relação à Fidelidade por parte dele, já me é lícita a  existência da  dúvida para poder perguntar a alguém onde é que ele poderia ter aprendido aquilo tudo sozinho uma vez que era solteiro.
   Ora Gil Vicente, mais tarde, na sua obra a Farsa da Inês Pereira, em dada altura, lá para o fim, se bem me lembro, aparece um homem sobre alguém, vangloriando-se com estas palavras: Assim se fazem as cousas,  pelo que não deve ter aprendido com o autor da obra citada, em tempo, nesta narrativa.
  Quanto â Madame Gralha podia ter sido mais explicita se lhe tivesse colocado  a sua questão em verso,  conforme quadra seguinte, de minha autoria:
 MOZEN GRALHA, MOZEN GRALHA!
O QUE O PADRE DISSE ESTÁ BEM!
COMO O AMOR NÃO COME PALHA,
VEM MEU       ANJO, VEM MEU BEM.
   Se assim tivesse  procedido, duvido que o nosso herói não tivesse percebido logo o perigo que estava a correr se não regressasse a casa.
   Espero que gostem e comentem.
Publicado por:
Imagem do Álbum do autor e do Google
abibliotcaviva.bçogspot.pt
Março de 2011

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