quarta-feira, 23 de março de 2011

EXCERTO DA MINHA AUTOBIOGRAFIA NÃO PUBLICADA

EXCERTO DA MINHA AUTOBIOGRAFIA
O autor com 13 anos -1952
  O meu tutor ficou satisfeito ; Comprou foguetes para  festejar quando chegámos  à aldeia  ; Eu  vinha  com uma satisfação tripla; Aos 12 anos tinha ido estrear  metade de um par  de botas novas , a da frente;  A outra parte, a de trás,  era velha; As duas partes, foram restauradas, por um sapateiro da aldeia,  a partir de umas botas velhas, do meu primo, seis anos mais velho do que eu e que era  filho do meu tutor;  Vestia o meu primeiro fato novo e tinha ido , também, pela primeira vez, à vila para fazer os meus exames do  Ensino Primário Elementar- 4ª Classe - onde fui aprovado com distinção.
  Depressa  arrumei as botas; Os contra-fortes estavam  crestados  e faziam roeduras nos pés ; Era melhor  continuar a andar descalço; Na aldeia as ruas eram cheias de mato em frente às casas  onde era pisado pelas pessoas, carroças e animais; Era depois retirado para as hortas onde ia servir de estrume; Adubos químicos, se existiam, não havia dinheiro para os comprar; Por vezes, além do mato, havia também tojos e silvas nas ruas e era doloroso fazer a travessia nalguns locais da aldeia; Por outro lado, nas estradas e caminhos, só  havia pó no verão, poças de água barrenta e lama no inverno; Mais tarde, apareceram as calçadas, mas só nas ruas principais das aldeias, porque o alcatrão, ouro para a época, ainda não tinha chegado às povoações ; A escola já tinha acabado; Os pés sofriam e o corpo também.
IV
   A disciplina a que fui submetido  era rigorosa; Conheci vários regulamentos discipinares; O caseiro RDC, o Escolar RDE  e mais tarde o do Exército RDM. Cedo, por não ter quem me defendesse , aprendi a sobreviver às provocações;  Sempre que algum colega mais velho me batia ,eu recorria à minha tia – o meu tutor estava quase sempre ausente -  para fazer as queixas e obtinha sempre a mesma resposta, Bate-lhes tamãe ,   até que desisti de me queixar.
   Nestas circunstâncias defendia-me com um ramalho – havia muitos em todo o lado – que utilizava de lado e cima para baixo e os adversários ao ficarem a saber como elas mordiam, começaram a não mais se meterem comigo;  Do famoso escritor Aquilino Ribeiro  li , mais tarde,no busto seu que está na sua casa museu,em Soutosa .Vila Nova de Paiva " De pena na mão procuro ser original, independente e inteiriço como um bárbaro "; Ora eu, também, para atingir o meu objectivo, não utilizando a pena utilizava o ramalho , isto é, quem não tem  cão caça com  um gato .
Cumprimentos da Biblioteca Viva
Março de 2011

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