É FEIO CHAMAR VELHO A UM VELHO?
À PERGUNTA, RESPONDEU:
Dr Almerindo
Lessa
Imagem digitalizada
da entrevista, por si, dada à Revista
Público Magazine nº 181 de 22-08-1993.
É, devido à carga depreciativa que a palavra tem. Será melhor
chamar-lhe idoso. Os brasileiros resolveram bem o problema dando ao termo velho
uma envolvência afetiva, cúmplice: «Como vai meu velho?». Os árabes não têm
sequer a palavra velho, têm a palavra antigo. Nós depreciamos os idosos, porque
estamos num continente deles, Portugal já faz parte do chamado clube dos
velhos, país com cerca de 14% da população acima dos 65 anos. (Lembro que isto
foi dito em 1993).
ISTO PODIA SER-LHES UM FATOR DE RIQUEZA?
Podia, se o encarássemos de outra maneira, como fazem os
chineses, os indianos, os africanos, e de certo modo, os franceses. Dos
Europeus, são os franceses que revelam uma postura diferente, mais humanista,
em grande parte devido ao Maio de 1968.
Maio de 68, foi a mais inovadora revolução, no sentido lato,
que houve no Ocidente neste século. Só não provocou uma rutura total nas
estruturas sociais porque o Partido Comunista Francês não quis. Teve medo.
Os sindicatos, dominados por ele, não deixaram os operários
juntar-se aos estudantes. As manifestações eram tão espontâneas, tão puras «eu
acompanhei-as» que nem o Estado nem o PCF as perceberam.
De Gaulle, só admitiu que os jovens podiam ter razão quando,
mais tarde, Edgar Faure, lhe revelou que havia, por exemplo, falta de quatro
mil professores. Tinham sido reformados.
E ONDE ESTÃO?
Perguntou-lhe ele? Ora andam por aí, atrás das garotas, a dirigir
empresas, a passear, a ir ao cinema, menos a trabalhar porque a lei não lho
permite.
Então, De Gaulle
disse-lhe: senhor ministro, isso é uma imbecilidade social.
Faça o favor de reunir
um grupo de peritos em imbecilidade social e resolva o problema. Eu fui um dos
escolhidos, éramos 100.
É o título mais curioso que tenho: especialista em
imbecilidade social! Uma das secções
desse grupo reuniu-se em Lisboa, na Universidade Técnica, onde elaborou o
Estatuto da Associação Permanente de Gerontologia Social, que fez o projeto
para o reaproveitamento das pessoas idosas.
E ISSO FOI POSTO EM PRÁTICA?
Sim, daí a França ser, como disse, um País avançado em
questões sociais. Foi numa das nossas reuniões que surgiu a expressão «terceira
idade», criada por Jean Huet, para designar os maiores de 65 anos. Nessa fase,
uma pessoa ativa estava, então, gasta, cansada fisicamente. Hoje envelhece-se
mais devagar, a terceira idade principia aos 75 anos, ganhámos uma década. Daí
que a altura da reforma devesse ser escolhida por cada um de acordo com as suas
conveniências: ou adiava-as e continuava a trabalhar, em tempo inteiro, em
«parte time», ou ia para casa fazer outra coisa. No setor privado, há de novo
idosos em atividade, grande parte dos professores das cinco universidades
particulares de Lisboa são reformados da Função Pública e por saneamentos a
seguir ao 25 de Abril.
O 25 DE ABRIL TEVE ALGUMA COISA DE PARECIDO COM O MAIO DE 68?
Não, porque os objetivos eram outros. Foi uma revolução
corporativa, primeiro, e política depois. Os partidos e os militares depressa o
disciplinaram … O maio de 68 foi uma revolução feita por jovens, fisicamente,
mas pensada por velhos intelectualmente, como Marcuse, o Sartre.
QUEM ENVELHECE MENOS?
É quem trabalha com o cérebro. Os intelectuais envelhecem
menos que os operários. A morte é, aliás, determinada pela paragem do cérebro,
não do coração.
Espero que gostem ,
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11-02-2014
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